Ontem pensei em colocar algo aqui pra vocês que me visitam. Como minha vó fará 80 anos semana que vem...sei lá...vem um monte de coisa à tona, lembranças boas (sim, só tenho lembranças boas com a minha Vó Zenir e com meu Vô Alcino, que tá nanando esperando o papai do céu acordá-lo). Aquela casa, que minha vó insiste em chamar de velha mas eu chamo de antiga, o quintal, tudo me lembra minha infância. E o melhor é que a história se repete. Todos adoramos ver a Sofia, a Natália e a Gabi brincando naquele quintal, como se fossemos nós mesmas (a pouco, bem pouco mais de 30 anos atrás)...
E outro dia, a Sofia e a Natália brincando de fantasma no quarto de hóspedes da casa da minha vó, do mesmo jeito que nós, as mães, Kátia e Patrícia brincávamos naquele quarto.
Aí, me lembrei desse texto que que fala de "aconchegos da memória". Eu concordo com tudo aquilo e tento realmente fazer do pouco tempo que tenho com a Sofia no "nosso tempo".
Se você já é mãe, ou ainda não, vale à pena ler. É no mínimo uma leitura "aconhegante".
Bjs.
Pequenos Rituais...
Na correria do dia-a-dia, não podemos deixar de valorizar o prazer das pequenas coisas.
Quando começava a tempestade, eu já torcia pela queda de energia. Sabia que, ao apagar das luzes, pegaríamos o banquinho lá fora para o começo da berlinda. Invenção da minha mãe. Fazíamos uma roda e um de nós ia ao centro, sentar-se no banquinho, para ouvir adjetivos sobre sua pessoa. Não era exatamente um jogo da verdade. O que eu ouvia eram predicados suaves, tipo "legal" ou "magrinha". No máximo, um "implicante" do meu irmão. Mas não sei se o próprio escuro, o clima à luz de velas, o esperar pela opinião que tinham a meu respeito ou, simplesmente, o ritual familiar fizeram com que os dias de tempestade ficassem pra sempre na minha memória. Até hoje, quando acaba a luz, me lembro da nossa berlinda no escuro. Não sei explicar exatamente, mas essas pequenas repetições cotidianas, esses singelos rituais, de alguma maneira, me aquecem a alma.
Não brinco de berlinda com os meus filhos, mas vamos construindo nossos pequenos rituais. Um eventual sorvete depois da escola, um restaurante, brincar de adedanha enquanto a comida não chega, apostar corrida entre o elevador social e o de serviço, aquele hotel que se vai de vez em quando, passar a pé correndo pelo portão do cachorro brabo, saltar pelos quadrados da calçada pisando nos pretos, viajar juntos nas férias, o pastel da feira, o waffle de domingo e por aí vai. Penso, assim, criar-lhes pequenos aconchegos na memória. Aconchegos que eles poderão, como eu, visitar em sua vida adulta.
Na correria dos dias, sempre que dá, eu e Luiz nos encontramos para pegá-los na escola. Eles entram no carro e já prevêem: aonde nós vamos? Esticamos uns minutinhos, para um pequeno gosto de férias num picolé da padaria. Um dia acordamos mais cedo e fomos a pé pra escola. É inacreditável o número de coisas que se descobrem no caminho. Um senhor lavava a calçada e a água descia rua abaixo. Não tínhamos todo o tempo do mundo, mas não pude deixar de fazer com meus filhos uma deliciosa brincadeira da minha infância. Agachamos no meio-fio e ficamos vendo nossas pequenas canoas de folhas secas descendo na enxurrada. Eles adoraram. De vez em quando, vamos a pé para a escola e, agora, qualquer agüinha vira rapidamente um rio caudaloso. E isso leva apenas cinco minutos. Na verdade, o que precisamos mesmo é estar atentos e, na vida corrida que levamos entre o nosso trabalho, a escola deles, inglês, ginástica e natação, tentar achar brechas para os pequenos rituais.
Depois destas férias, percebi como é bom fazermos juntos uma comida. Quebrar a rotina, tomar a cozinha da Neuza e, mesmo com a lição sendo feita ali ao lado do fogão, prepararmos, conversando, um prato qualquer que nos alimente depois de um dia de escola e trabalho. Algumas gotas de férias no meio do ano. Já combinamos: às terças-feiras, a cozinha é nossa. Bom pra Neuzinha, melhor pra nós.
Também foi nestas férias que lhes ensinamos a jogar cama-de-gato. Sabe aquela brincadeira do barbante entrelaçado na mão, que o outro tira e você tira de novo? Se não formos nós, quem passará pros nossos filhos o prazer dessas pequenas coisas? Também aprendemos a quebrar o ovo cozido na testa. Um pequeno gesto engraçado que vai nos divertir pra sempre, aos filhos deles e quiçá aos netos. Porque agradecerei pra sempre à minha família os aconchegantes rituais da minha memória. Dos alfinetes que resgatei entre as tábuas do assoalho para a minha bisa, costureira, às deliciosas melancias compartilhadas meio a meio com meu tio Fausto.
Texto de Denise Fraga - revista Crescer de de Março/07. Ela é atriz, apresenta os quadros "Álbum de Casamento", "Fazendo História" e "Retrato Falado", no "Fantástico", casada com o diretor Luiz Villaça e mãe de Nino, 8 anos, e Pedro,7
3 comentários:
Lindo o texto. Digno da sua atenção, boa escolha para o blog hoje! Beijos
Lindo texto, Kátia! Qdo eu estava grávida do Davi e quando ele nasceu, era assinante da Crescer e tb colecionei belos textos da Denise. Vou guardar esse com carinho! Obrigada!!!
Bjus,
Dica.
Ai que liiiiiiiiiindo!!!!!Amei, tô toda arrepiada juro!!!!!Eu tb procuro resgatar algumas coisas e contar da minha infância pra Mari...mas agora ela já tá gdeeeee.....
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