01 novembro 2007

Pequenos Rituais...

Estou terminando o album do aniversário de 1 aninho da Alícia (que aliás já vai fazer 2 hihihi) então, para conseguir terminar, não posso mexer com mais nada enquanto isso...

Ontem pensei em colocar algo aqui pra vocês que me visitam. Como minha vó fará 80 anos semana que vem...sei lá...vem um monte de coisa à tona, lembranças boas (sim, só tenho lembranças boas com a minha Vó Zenir e com meu Vô Alcino, que tá nanando esperando o papai do céu acordá-lo). Aquela casa, que minha vó insiste em chamar de velha mas eu chamo de antiga, o quintal, tudo me lembra minha infância. E o melhor é que a história se repete. Todos adoramos ver a Sofia, a Natália e a Gabi brincando naquele quintal, como se fossemos nós mesmas (a pouco, bem pouco mais de 30 anos atrás)...
E outro dia, a Sofia e a Natália brincando de fantasma no quarto de hóspedes da casa da minha vó, do mesmo jeito que nós, as mães, Kátia e Patrícia brincávamos naquele quarto.

Aí, me lembrei desse texto que que fala de "aconchegos da memória". Eu concordo com tudo aquilo e tento realmente fazer do pouco tempo que tenho com a Sofia no "nosso tempo".

Se você já é mãe, ou ainda não, vale à pena ler. É no mínimo uma leitura "aconhegante".

Bjs.


Pequenos Rituais...

Na correria do dia-a-dia, não podemos deixar de valorizar o prazer das pequenas coisas.
Quando começava a tempestade, eu já torcia pela queda de energia. Sabia que, ao apagar das luzes, pegaríamos o banquinho lá fora para o começo da berlinda. Invenção da minha mãe. Fazíamos uma roda e um de nós ia ao centro, sentar-se no banquinho, para ouvir adjetivos sobre sua pessoa. Não era exatamente um jogo da verdade. O que eu ouvia eram predicados suaves, tipo "legal" ou "magrinha". No máximo, um "implicante" do meu irmão. Mas não sei se o próprio escuro, o clima à luz de velas, o esperar pela opinião que tinham a meu respeito ou, simplesmente, o ritual familiar fizeram com que os dias de tempestade ficassem pra sempre na minha memória. Até hoje, quando acaba a luz, me lembro da nossa berlinda no escuro. Não sei explicar exatamente, mas essas pequenas repetições cotidianas, esses singelos rituais, de alguma maneira, me aquecem a alma.
Não brinco de berlinda com os meus filhos, mas vamos construindo nossos pequenos rituais. Um eventual sorvete depois da escola, um restaurante, brincar de adedanha enquanto a comida não chega, apostar corrida entre o elevador social e o de serviço, aquele hotel que se vai de vez em quando, passar a pé correndo pelo portão do cachorro brabo, saltar pelos quadrados da calçada pisando nos pretos, viajar juntos nas férias, o pastel da feira, o waffle de domingo e por aí vai. Penso, assim, criar-lhes pequenos aconchegos na memória. Aconchegos que eles poderão, como eu, visitar em sua vida adulta.
Na correria dos dias, sempre que dá, eu e Luiz nos encontramos para pegá-los na escola. Eles entram no carro e já prevêem: aonde nós vamos? Esticamos uns minutinhos, para um pequeno gosto de férias num picolé da padaria. Um dia acordamos mais cedo e fomos a pé pra escola. É inacreditável o número de coisas que se descobrem no caminho. Um senhor lavava a calçada e a água descia rua abaixo. Não tínhamos todo o tempo do mundo, mas não pude deixar de fazer com meus filhos uma deliciosa brincadeira da minha infância. Agachamos no meio-fio e ficamos vendo nossas pequenas canoas de folhas secas descendo na enxurrada. Eles adoraram. De vez em quando, vamos a pé para a escola e, agora, qualquer agüinha vira rapidamente um rio caudaloso. E isso leva apenas cinco minutos. Na verdade, o que precisamos mesmo é estar atentos e, na vida corrida que levamos entre o nosso trabalho, a escola deles, inglês, ginástica e natação, tentar achar brechas para os pequenos rituais.
Depois destas férias, percebi como é bom fazermos juntos uma comida. Quebrar a rotina, tomar a cozinha da Neuza e, mesmo com a lição sendo feita ali ao lado do fogão, prepararmos, conversando, um prato qualquer que nos alimente depois de um dia de escola e trabalho. Algumas gotas de férias no meio do ano. Já combinamos: às terças-feiras, a cozinha é nossa. Bom pra Neuzinha, melhor pra nós.
Também foi nestas férias que lhes ensinamos a jogar cama-de-gato. Sabe aquela brincadeira do barbante entrelaçado na mão, que o outro tira e você tira de novo? Se não formos nós, quem passará pros nossos filhos o prazer dessas pequenas coisas? Também aprendemos a quebrar o ovo cozido na testa. Um pequeno gesto engraçado que vai nos divertir pra sempre, aos filhos deles e quiçá aos netos. Porque agradecerei pra sempre à minha família os aconchegantes rituais da minha memória. Dos alfinetes que resgatei entre as tábuas do assoalho para a minha bisa, costureira, às deliciosas melancias compartilhadas meio a meio com meu tio Fausto.

Texto de Denise Fraga - revista Crescer de de Março/07. Ela é atriz, apresenta os quadros "Álbum de Casamento", "Fazendo História" e "Retrato Falado", no "Fantástico", casada com o diretor Luiz Villaça e mãe de Nino, 8 anos, e Pedro,7

3 comentários:

Maria Lucia disse...

Lindo o texto. Digno da sua atenção, boa escolha para o blog hoje! Beijos

Dilaine de Oliveira disse...

Lindo texto, Kátia! Qdo eu estava grávida do Davi e quando ele nasceu, era assinante da Crescer e tb colecionei belos textos da Denise. Vou guardar esse com carinho! Obrigada!!!
Bjus,
Dica.

kaká disse...

Ai que liiiiiiiiiindo!!!!!Amei, tô toda arrepiada juro!!!!!Eu tb procuro resgatar algumas coisas e contar da minha infância pra Mari...mas agora ela já tá gdeeeee.....